quinta-feira, 26 de novembro de 2015

As causas da provocação turca contra a Rússia?




Por Yusuf Fernandez
Finalmente, o regime de Recep Tayyip Erdogan entrou em  confronto direto e aberto com a Rússia, unindo-se ao Qatar, que acaba de adquirir mísseis antiaéreos portáteis para os terroristas na Síria. 

Um F-16 abateu um bombardeiro tático russo SU-24 que estava realizando uma missão de combate contra os terroristas protegidos pela Turquia ao norte da província fronteiriça de Latakia. O avião foi abatido a 1 km da fronteira dentro de território sírio, o que significa não só uma agressão injustificada contra a Rússia, mas também a violação da soberania síria. 

Turquia afirma que o avião russo havia entrado no espaço aéreo turco e que lançou até 10 avisos para a aeronave. Isto, sem dúvida, teria exigido uma longa permanência da unidade russa no espaço aéreo turco. Os EUA, por sua vez, respaldaram inicialmente  a versão turca para em seguida voltar atrás e passar a falar de "alguns poucos segundos" de permanência dos aviões russos no espaço aéreo turco. 

A Rússia, por sua vez, negou estas alegações, afirmando que possui os registros do voo e que eles mostram que o SU-24 permaneceu durante todo o tempo no espaço aéreo sírio, fato confirmado pelo piloto sobrevivente, resgatado por um comando sírio. Além disso, mesmo no caso de considerarmos que houve  por "alguns segundos" a invasão do espaço aéreo turco, como afirma os EUA,  isso  não legitimaria o bombardeio contra o avião russo, já que não estava realizando qualquer operação hostil contra a Turquia e que não chegou a ser contatado pela unidade turca.

Na verdade, foi uma provocação militar sem precedentes que revela a irritação da Turquia à intervenção militar russa na Síria, ameaçando levar a cabo o colapso dos grupos terroristas que a Turquia tem apoiado por cinco anos. Nesse sentido, a falsa justificativa da Turquia para atingir o avião não pode ser mais hipócrita: a defesa do espaço aéreo e a soberania do país.

Turquia leva, de fato, uma guerra de agressão encoberta contra a Síria mediante o apoio aos grupos terroristas. O que representa  uma violação da soberania síria, uma aberta e total agressão contra o país vizinho que viola a Carta das Nações Unidas e os princípios básicos do Direito Internacional. 

A destruição dos caminhões carregados de petróleo do EI, que permitia ao grupo transportar o petróleo sírio e iraquiano roubado até a Turquia, pode ter irritado Ancara, mas o que o regime de Erdogan realmente tenta é expulsar a Rússia da Síria que está impedindo de levar a cabo sua estratégia (compartilhada com os EUA – nota do Blog.) de mudança de regime na Síria por um regime extremista construído por vassalos turcos no contexto de um sonho impossível de recriar o Império Otomano com Erdogan como Sultão. EUA apoiam esses planos  que estão inseridos nas suas próprias ambições geo-estratégicas. 

Logo após o incidente, Erdogan ofereceu uma nova versão onde afirmou que havia agido para "defender nossos irmãos", ou seja, os grupos terroristas que operam na Síria e, particularmente, os que estavam no Monte dos Turcomanos, no norte de Latakia, que têm estado sob ataques dos aviões russos, incluindo aquele que foi abatido. O Monte dos Turcomanos tornou-se, de fato, uma das principais focos do terrorismo em Latakia e, portanto, um objetivo prioritário para a aviação russa. O regime turco também tentou explorar politicamente o incidente com o SU-24 para apresenta-lo internamente como evidência de "poder e prestígio" da Turquia.

Não há dúvida de que o regime turco agindo da forma que agiu buscava, também, elevar o moral dos terroristas na Síria, que se encontra abalado e em recuo, melhor, fugindo do avanço do exército sírio. A derrubada do avião não foi, nesse sentido, a única provocação de Ancara. Recentemente, um veículo que transportava jornalistas russos que queriam cobrir os combates na província de Latakia foi objeto de ataque. 

Em seguida a provocação, rapidamente, a Turquia buscou refúgio no guarda chuva da OTAN, a fim de evitar uma retaliação militar russa. Alguns parceiros europeus não mostraram, no entanto, um especial entusiasmo por defender a Turquia. O presidente tcheco Milos Zeman, por exemplo, acusou Ancara de manter relações com EI e questionou sobre a oportunidade de derrubar um avião que estava combatendo  contra o terrorismo. 

A provocação turca foi um erro no que se refere ao  adversário . A Rússia é um adversário demasiado poderoso para Ankara. Tem muitas formas de realizar uma represália contra a Turquia, sem que esta seja uma resposta militar direta.

No terreno militar, a Rússia implantará os mísseis S-400  que criarão uma zona inexpugnável no espaço aéreo sírio, pondo fim aos planos de Erdogan (leia-se EUA-Nota do Blog) para criar uma zona de exclusão aérea. A Rússia trouxe para as aguas sírias o cruzador lança-mísseis Moskva , que pode derrubar qualquer  alvo aéreo de médio e longo alcance. Além disso, a Rússia deverá aumentar o número de suas tropas terrestres na Síria. 

A Rússia também suspendeu vários acordos econômicos, de energia e nuclear, que beneficiariam muito Turquia. Além disso, o país pode esperar uma longa e prolongada queda dos visitantes russos, que formavam uma parte importante do setor de turismo no país. Neste sentido, podemos dizer que a defesa do extremismo fundamentalista por Erdogan está  prejudicando gravemente os interesses da Turquia como uma nação.

Há ainda a possibilidade da Rússia apoiar os rebeldes kurdos do PKK, que lutam contra o governo de Ancara, e apoiar as forças turcas de oposição ao regime de Erdogan. 

Por fim, a reação dos EUA de  apoio a Turquia e a  declaração de Obama de que a Turquia tinha o direito de "agir em auto-defesa", o que não era verdade,  e que  lembra a expressão utilizada normalmente quando  defende os crimes e agressões de Israel,  revelam a falsidade das declarações de Washington quando afirmam que estão empenhados  na "guerra contra o terrorismo" na Síria. Na verdade, a Turquia e os EUA estão  tratando de proteger os grupos terroristas na Síria contra o Exército sírio e os ataques da aviação russa e implementando a estratégia que visa em primeiro uma "mudança de regime" no país. 
 
Alguns meios de comunicação norte-americanos estão levantando a possibilidade dos EUA terem jogado um papel no incidente com o  avião russo. Talvez motivados pela proposta manifesta  de François Hollande, pouco depois dos ataques em Paris, da urgência de criar uma ampla coalizão contra EI, com a participação de dos EUA e da Rússia. Proposta que se frustrou após o bombardeio turco ao S-24 russas no mesmo dia da visita do presidente francês a Washington. O desenrolar dos acontecimentos  agradou muito aos EUA, que rejeitam qualquer tipo de cooperação com a Rússia e tem como objetivo promover uma linha militarista e de confronto com esse país.

http://www.almanar.com.lb/spanish/adetails.php?eid=112880&cid=49&fromval=1&frid=49&seccatid=44&s1=0

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